“Porque o reino do poeta... bem, não me venha dizer que não é deste mundo. Este e o outro mundo, o poeta não os delimita: unifica-os. O reino do poeta é uma espécie de Reino Unido do Céu e da Terra.”

Mario Quintana

sábado, 4 de junho de 2011

Biografia


A noite do dia 30 de julho de 1906 é muito fria em Alegrete. Os termômetros da cidade, que fica na fronteira oeste do Rio Grande Sul, marcam 1°C. O nascimento do quarto filho movimenta e aquece a família do farmacêutico Celso de Oliveira Quintana e de Virgínia de Miranda Quintana. Em pleno inverno gaúcho, Mario de Miranda Quintana vem ao mundo prematuramente.

Em função da saúde frágil, o menino tem a maioria das doenças da infância. Fica muito tempo dentro de casa e gosta de brincar no pomar do pátio. As empregadas o chamam de “menino azul”, em função da pele muito branca e das veias do corpo aparecerem.

Os pais ensinam à criança o que seria uma de suas melhores formas de expressão: a escrita. Em 1913, com sete anos, Mario já consegue ler as páginas do jornal Correio do Povo. Ele aprende ainda noções de francês.

 Em 1914, o menino começa os estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino. No ano seguinte, frequenta a escola do mestre português Antônio Cabral Beirão, onde conclui o curso primário.

O primeiro amor é por uma menina de Alegrete, filha do agente funerário da cidade. Na infância, Mario Quintana tem dois grandes amigos: Militão e a prima Gioconda.

Com 13 anos, vai estudar em regime de internato no Colégio Militar de Porto Alegre. É quando começam a surgir os traços iniciais de poeta: Mario publica seus primeiros trabalhos na revista Hyloea, da Sociedade Cívica e Literária dos Alunos do Colégio Militar.

Mario contraria o desejo do pai, que desejava ver o filho doutor. Em 1924, deixa o Colégio Militar e passa a trabalhar como atendente na Livraria do Globo durante três meses. Aos 17 anos, o futuro escritor publica um soneto em um jornal de Alegrete, com o pseudônimo JB. O poema era tão bom que o pai fica com vontade de revelar a autoria do trabalho. Mario, então, não perde a chance de fazer uma brincadeira: lembra o pai que ele não gostava de poesia.

O retorno à cidade natal acontece em 1925. Mario parece estar prevendo o pior. Lá, ele trabalha na farmácia do pai. A tristeza marca a vida do jovem nos dois anos seguintes. Mario perda a mãe em 1926 e o pai em 1927.

As perdas dividem espaço com a primeira premiação. O jornal Diário de Notícias homenageia o trabalho A Sétima Personagem. Já a revista Para Todos, do Rio de Janeiro, publica um poema, por iniciativa do cronista Álvaro Moreyra.

Em 1929, ingressa na redação do jornal O Estado do Rio Grande. O veículo é dirigido por Raul Pilla na Capital. No ano seguinte, começa a colaborar com a Revista do Globo.

A primeira tradução é publicada em 1934: Palavras e Sangue, de Giovanni Papini, pela Editora Globo. Desde então, passa a traduzir para a empresa. Entre outros autores, verte para o português obras de Marcel Proust e Virginia Woolf.

Em 1936, deixa a Editora Globo e vai trabalhar na Livraria do Globo, com Erico Verissimo. Lá, era chamado pelos colegas de Macaco Sábio. É por esta época que seus textos publicados na revista Ibirapuitan chegam ao conhecimento de Monteiro Lobato, que pede ao poeta gaúcho que escreva um livro. Em 1953, ingressa no jornal Correio do Povo, onde fica até 1967.

O famoso livro A Rua dos Cataventos é publicado em 1940. A partir daí, a produção literária se intensifica. Mario passa a receber elogios dos maiores intelectuais da época e recebe uma indicação para a Academia Brasileira de Letras, que nunca é concretizada.

O ano de 1948 tem a publicação de duas obras: Sapato Florido e O Batalhão das Letras, ambas pela Editora Globo. Em 1950, é a vez de O Aprendiz de Feitiçeiro (Editora Fronteira). Espelho Mágico (Editora Globo) sai no ano seguinte.

Em 1976, é lançado o seu livro de poemas Apontamentos de História Sobrenatural (Editora Globo), pelo qual recebe o Prêmio Pen Club de Poesia Brasileira. Na Volta da Esquina, popular coletânea de crônicas, é lançada em 1979 pela Editora Globo.

Em 1986, quando o poeta completa 80 anos, é lançada a coletânea 80 Anos de Poesia, organizada por Tania Carvalhal. Em 1990, sai o livro Velório sem Defunto (Mercado Aberto).

Ao brindar a poesia infanto-juvenil em 1975 com Pé de Pilão, Quintana é assim definido na introdução de Erico Verissimo: "Descobri outro dia que o Quintana na verdade é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora. (Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias)".

As homenagens começam a fazer parte da vida de Mario na década de 60. Em agosto de 1966, o poeta é saudado durante sessão da Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira. Em dezembro, recebe o Prêmio Fernando Chinaglia para o Melhor Livro do Ano: Antologia Poética.

No ano seguinte, vem o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre. Na ocasião, agradece: "Antes ser poeta era um agravante, depois passou a ser uma atenuante, mas, diante disso, vejo que ser poeta é agora uma credencial". Em 1968, a homenagem é da prefeitura de Alegrete. Uma placa de bronze é erguida na praça principal da cidade com os seguintes dizeres: "Um engano em bronze é um engano eterno."

Com 70 anos, recebe a medalha Negrinho do Pastoreio – o mais alto prêmio conferido pelo governo do Rio Grande do Sul.  Nova década, novos prêmios. Primeiro vem o PrêmioAgropecuária e Serviços de Passo Fundo, durante a Jornada de Literatura Sul-Rio-Grandense de Passo Fundo.

Em 1982, outra importante homenagem distingue o poeta. É o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGSUFRGS). Em 1986, é a vez da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Oito anos depois, outras duas universidades concedem o mesmo tipo de honraria a Mario Quintana: Universidade de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em 1983, o Hotel Majestic, de Porto Alegre, onde o poeta morou de 1968 a 1980, passa a se chamar Casa de Cultura Mario Quintana. A proposta do então deputado Ruy Carlos Ostermann obtém a aprovação unânime da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O prédio é tombado como patrimônio histórico do Estado.

Mario gostava dos filmes Janela Indiscreta e Os Pássaros (de Alfred Hitchcock), O Garoto (de Charles Chaplin), e Rainha Cristina (de Ruben Mamoulian) com Greta Garbo, que era uma de suas musas.

Outra musa de Quintana é Cecília Meireles. Considerava ainda Bruna Lombardi uma boa amiga. Aos 80 anos, é eleito o Príncipe dos Poetas Brasileiros, entre escritores de todos o país. Promoção da Academia Nilopolitana de Letras, Centro de Memórias e Dados de Nilópolis e do jornal A Voz dos municípios fluminenses. É o quinto poeta a receber o título. Seus antecessores: Olavo Bilac, Alberto Oliveira, Olegário Mariano e Guilherme de Almeida.

Com vasto vocabulário, a escrita sempre é diversificada. O uso de expressões, entretanto, é singular. Segundo Luis Fernando Verissimo, o poeta costuma usar apenas uma: "ora, bolas" era um desabafo de mil utilidades.

A idade avançada revela algumas manias. Mario sempre apreciou presunto, café e quindim. Depois de velho, passa a gostar de mousse de chocolate. Tem uma alimentação rotineira, mas curiosa: repete o mesmo prato até enjoar, geralmente por um mês. Gosta principalmente de picadinho, filé mignon e canja. Depois de acostumar o estômago, troca de prato e o repete por mais 30 dias. Uma de suas mais frequentes por companhia era o cigarro entre os dedos.

Mario Quintana morre no dia 5 de maio de 1994 em Porto Alegre, depois de ter sido internado no Hospital Moinhos de Vento com infecção intestinal e insuficiência respiratória. O poeta não se casou, não teve filhos. Viveu solteiro. Sempre acompanhado. Da sua genialidade.

"Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira."

"A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos."

 
Créditos

Texto: Hector Werlang
Fonte: Clic RBS

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